Caso Cri$e em Angola: Crise vai deixando prateleiras cada vez mais vazias nos supermercados de Luanda


Nas prateleiras das grandes superfícies de Luanda apenas as primeiras filas estão preenchidas e falta de tudo um pouco, por entre os desabafos de clientes que se queixam que todas as semanas os preços sobem.

Numa ronda pelos principais hipermercados de Luanda, o título de capital mais cara do mundo ganha hoje redobrado valor com a crise do petróleo e as dificuldades na importação de vários produtos pela falta de divisas.

Numa das unidades da maior rede de hipermercados angolana, o grupo Kero, não se via arroz ou ovos, enquanto o leite é praticamente todo de uma marca portuguesa e chega aos 270 kwanzas por litro (1,5 euros).

Produto que já este ano chegou a ser limitado na quantidade a levar por cliente, como acontece em vários pequenos supermercados e armazéns à volta de Luanda, para outros bens alimentares.

Ainda no centro da capital, numa das lojas da Maxi, do grupo Teixeira Duarte, havia ovos, mas cada dúzia valia 798 kwanzas (4,5 euros) e pelo único tipo de arroz à venda, também de marca portuguesa, o cliente tinha de pagar 633 kwanzas (3,6 euros) por um quilograma (kg). E mesmo assim pouco mais de uma dezena de pacotes estavam à venda, espalhados de forma a ocupar a prateleira.

Já nas cantinas da cidade, um saco de 25 kg custa 12.500 kwanzas (69 euros), apurou a Lusa.
"É duas vezes mais do que custava antes de Dezembro e não para de aumentar", desabafa à porta da loja um cliente, queixando-se, além do preço, das limitações impostas por quem vende.

"Estão a vender pouco para guardarem para eles e assim fazerem subir os preços", aponta.
Oficialmente, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, a inflação superou os 14% em Luanda durante o ano de 2015, mas têm sido apontadas discrepâncias entre os preços que constam do cabaz analisado pela instituição angolana e a real venda ao público.

Já o salário mínimo em Angola está fixado desde junho de 2014 entre os 15.003,00 Kwanzas (85,7 euros) e os 22.504,50 kwanzas (128,6 euros), consoante o sector de actividade.

Ainda assim, nesta ronda feita pela Lusa, foi possível encontrar numa loja da rede Kero um vinho português Conde Vimioso, de 75 centilitros (cl), por 995 kwanzas (5,6 euros) e logo ao lado um vinho Quinta Pinhanços (Dão), com o mesmo volume, mas por 43.500 kwanzas (245 euros).

Num país em que a água engarrafada é a única alternativa segura de consumo, uma garrafa de litro e meio mais do que duplicou de preço nos últimos meses, mesmo as de produção nacional, e já chega aos 119 kwanzas (67 cêntimos de euro), enquanto as marcas portuguesas dificilmente são vistas nas prateleiras.

Pouco mais custam as cervejas de lata (33cl), que rondam os 120 kwanzas (67 cêntimos de euro) para as marcas de produção nacional e os 140 kwanzas (79 cêntimos de euro) para as importadas de Portugal.

"Um dia destes é mais barato beber cerveja em vez de água", ironizam, em conversa, dois clientes, junto à preenchida secção cervejeira.

Um litro de óleo custa por estes dias à volta de 700 kwanzas (quatro euros), enquanto 75 cl do tradicional azeite português vale 2.279 kwanzas (12,8 euros) e um pacote de massa esparguete, da pouca oferta existente, já chega aos 245 kwanzas (1,4 euros).

Por apenas um quilograma de pera rocha cobra-se atualmente à volta de 550 kwanzas (3,3 euros) e só a banana nacional, em abundância nesta altura, fica em conta: 158 kwanzas (89 cêntimos de euro) por cada kg.

Além da falta de divisas, face à diminuição das receitas com a exportação de petróleo, necessárias para garantir as importações angolanas, a população enfrenta o problema da desvalorização do kwanza, quase 40% face ao dólar norte-americano no espaço de um ano, utilizado como argumento para fazer disparar os preços, ao agravar o custo das importações.

Em contraponto, os salários da administração pública continuam congelados, precisamente pelas dificuldades orçamentais do Estado, que viu as receitas fiscais com a exportação de petróleo caíram mais de metade em 2015.


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